quarta-feira, 18 de junho de 2014

Republicação: Crônica da Noite de São João

Escrevi o texto abaixo quatros anos atrás e não deixo de lembrar de meu querido avô.

Republico diante dos festejos juninos e do carinho dos avós com meu filho Mateus.

Fogueira da festa junina do Clube Campestre Sete Casuarinas (14.06.2014)

http://viniciuscalado.blogspot.com.br/2010/06/cronica-da-noite-de-sao-joao.html

QUARTA-FEIRA, 23 DE JUNHO DE 2010


Crônica da Noite de São João

O São João para o neto de Braúlio era uma data mágica, aliás não só o São João, mas o Santo Antônio e o São Pedro também. Eram seis dias de festa, fogueira na véspera e no dia de cada santo. A madeira era coletada pessoalmente por ele ao longo do ano e armazenada no quintal da ampla casa do neto. O garoto esperava o ano todo pelo mês de junho. 

Festa junina era sinônimo de fogueira, fogos, diversão e de "ficar acordado até tarde". Os fogos eram comprados, armazenados e dividos por dia, pois o garoto se pudesse soltava todos na primeira noite. Este papel cabia a mãe dele Ana Rosa, que cuidadosamente separava os conjuntos para o dia e véspera de cada santo. Haviam as "bichas de rodeio", os "peidos de véia", as cobrinhas, os chuveirinhos, os apitos gaiatos (estes eram soltados pela mãe), os buscapés (quem soltava este era o carajoso avô) e  os vulcões (que eram uma diversão para toda a rua).

Naquele época (anos 80) e localidade (Olinda, Bairro Novo) o número de fogueiras era gigantesco e tinham vários "Arraiás" montados pelos moradores, o bairro ficava esfumaçado e "cheiroso", com cheiro de São João. Festa popular de verdade, com casas abertas e sem medo. Famílias assavam milho na fogueira do vizinho e conversavam até a última brasa (ou quase, pois as fogueiras do avô duravam a noite toda).

No dia seguinte o neto acordava cedo para ver se da fogueira ainda tinha brasa. Na maioria das vezes ainda tinha, pois as grossas toras que serivam de base da fogueira ardiam até o sol "raiá" e pela manhã lá estava a fumaça exalando.

Bons tempos aqueles, e o avô Braúlio deixou saudades e marcou o neto para sempre. Quando ele se foi a fogueira não era mais a mesma, pois a madeira era comprada e "as pessoas" não sabiam montar a fogueira como ele e ainda queriam acender por cima e com os mais diversos e inusitados combustíveis (álcool, gasolina, querosene etc.). Vô Braúlio só usava papel, fósforos e grafetos finos. E a fogueira pegava, estando a madeira seca ou não.

Pois é, voinho, nem parece que se passaram 23 anos. Obrigado pelas agradáveis lembranças.

Vinicius de Negreiros Calado, véspera de São João, Recife, 2010.

--------------------------------------------------------------------------------------
Curiosidade sobre a data:

Noite de São João, celebrada em 23 de junho, véspera da data de nascimento de São João que, em vida, foi um pregador austero e de moral rigorosa. No entanto, é honrado em festas alegres e dionisíacas, com muita comida, dança e bebida. A data coincide com o solstício de verão no hemisfério norte. Desde tempos remotos, camponeses de toda Europa comemoravam, acendendo fogueiras. A tradição estendeu-se ao Brasil e outros países latino-americanos, coincidindo, neste caso, com o solstício de inverno.


A fogueira, o banho de cheiro, a poesia simples das cantigas do povo, o gosto bom da canjica, o perfume apetitoso das rosquinhas e dos bolos, as sortes, todo um mundo de esperanças, era assim que se festejava São João, sem dúvida a mais antiga e a mais brasileira das festas.

São João é o mais comemorado entre todos, especialmente, na zona rural, quando em sua honra as festas contam com comidas especiais à base de milho como canjica e pamonha, por exemplo. A música geralmente utilizando a sanfona é própria para a ocasião, são queimadas fogueiras e usadas roupas típicas para a dança da quadrilha. Entre as brincadeiras destacam-se a pescaria, leitura da sorte, rifas e leilões.

Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/junho/dia-de-sao-joao.php