Folheando uma revista feminina (de moda) de minha mulher me deparei com uma peça publicitária que me chamou a atenção. Aliás chamaria a atenção de qualquer homem pelos óbvios motivos daqui em breve explicitarei. Mas o que me levou a comentá-la neste espaço foi certo sentimento indignação pessoal frente ao absurdo da ideia vendida juntamente com a “roupa”, aliado a abusividade decorrente da sua caracterização como publicidade ilícita.
Bem, vamos a descrição da peça. A publicidade ocupa duas páginas da revista de tamanho A4, ou seja, a peça tem tamanho A3 (duas folhas de ofício que você usa no seu dia-a-dia juntas). Do lado esquerdo vê-se um muro alto com uma câmera de vigilância e defronte a mesma uma jovem de perfil em cima de uma escada de armar vestindo tênis, calça jeans e um “top” que está sendo levantado, deixando os seios à mostra precisamente na frente da câmera. Do lado direito da página está grafado com letras garrafais que ocupam três quartos da folha: “SMART MAY HAVE THE BRAINS, BUT STUPID HAS THE BALLS.” No canto inferior direito com fonte um terço menor: “BE STUDIP” <>.
Indaguei minha mulher, indignado sobre a peça. Ela não achou nada demais. Bati uma foto com o celular e sai mostrando e pedindo a opinião aos amigos. Na quase totalidade dos indagados recebi como resposta que não era nada demais. Os argumentos eram de que a peça era chamativa, vez que este é o objetivo do marketing mesmo e era uma revista de moda.
Bem, se você não fala inglês até aqui você apenas entendeu parte da história. Aqui vai uma tradução livre do texto: “Espertos podem ter o cérebro, mas os idiotas tem a coragem”. Destaco que “the balls”, significa mesmo “as bolas”. Coragem é o sentido atribuído no contexto. É como na famosa frase de Collor que tinha “aquilo” roxo. Todo mundo entende o que é aquilo e quais são as bolas.
Ou seja, a mensagem da peça publicitária contida num silogismo é a seguinte:
Premissa maior (explícita): Espertos podem ter o cérebro, mas os idiotas tem a coragem
Premissa menor (implícita): Os inteligentes são medrosos.
Conclusão (implícita): Seja corajoso(a) como a garota da foto.
Conclusão (explícita): Seja idiota, use <>
Conclusão (implícita) e objetivo do discurso persuasivo da peça: mostre que você é corajoso usando <>
O discurso persuasivo da peça utiliza-se de um elemento de pressão psicossocial: ninguém quer ser considerado medroso.
Na minha visão a peça publicitária é abusiva porque viola valores sociais ao apresentar uma jovem com os seios à mostra e estimular, enaltecer e conclamar o leitor a uma conduta estúpida, desvalorizando a inteligência e associando-a ao medo.
O art. 37, parágrafo segundo do Código de Defesa do Consumidor reconhece como ilícita por abusividade a peça em questão.
Outrossim, o idiota para compreender a publicidade ainda tem que saber falar inglês! Wow!
2 comentários:
mestre, concordo plenamente com todas as observações feitas, e achava que era o único que observava essas grandes coisas, enrustidas de pequenas coisas, ou que passam para a maioria das pessoas como uma simples propaganda, mas eu vou lhes ser sincero, eu nunca consegui ter acesso a uma revista feminina e não encontrar algo abusivo, é quase que entendimento pacífico para as editoras que o código defesa do consumidor não existe para as mulheres, pois estas tripudiam nas suas exposições.
Grande abraço!
Só mais uma dica professor, não sei se isso aconteceu só comigo, mas como li todo o Post senti uma dificuldade muito grande e rápidamente percebi minha vista cansada, talvez a combinação de uma letra pequena e fina demais com contraste preto não favoreça a leitura.
Concordo plenamente com o mestre, é a chamada indústria cultural, não há informação, mas formação, para ser claro, o que há é uma conformação. Na pesquisa, o senhor constatou que "todos" acolheram o "marketing" como natural, nada demais. É preciso tomar cuidado com o efeito espelho, onde o indivíduo é o reflexo da alienação e da reificação.
Cordial abraço
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